“Prefiro ser um ciborgue a ser uma deusa”: interseccionalidade, agenciamento e política afetiva

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ISSN: 1980-2072 (Impressa)
Editor Chefe: Prof. Sérgio Henriques Zandona Freitas
Início Publicação: 01/06/2006
Periodicidade: Quadrimestral
Área de Estudo: Direito

“Prefiro ser um ciborgue a ser uma deusa”: interseccionalidade, agenciamento e política afetiva

Ano: 2013 | Volume: 8 | Número: 2
Autores: Jasbir Puar
Autor Correspondente: Jasbir Puar | [email protected]

Palavras-chave: interseccionalidade, agenciamento, direitos humanos.

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Nas duas últimas décadas, a interseccionalidade
tem sido compreendida por diversos feministas como a noção
primária para a teorização da diferença, e atualmente essa é uma
abordagem predominante em algumas correntes da teoria queer
(cada vez mais conhecida como crítica queer de cor [do inglês,
queer of color critique]). A interseccionalidade emergiu das lutas
da segunda onda feminista como uma intervenção feminista negra
fundamental, desafiando as ideias hegemônicas de raça, classe e
gênero que existiam no âmago das correntes feministas, até então
predominantemente voltadas para o público branco. No entanto,
exatamente por e ao realizar essa intervenção, a interseccionalidade
também gera uma irônica reificação da diferença sexual como a uma
diferença fundamental que precisa ser rompida – em outras palavras,
a diferença sexual e de gênero é entendida como a constante a partir
da qual existem variações. A interseccionalidade e o agenciamento
não são análogos em termos de conteúdo, de intenção e tampouco
de utilidade, sendo às vezes concebidos como incompatíveis ou
até mesmo antagônicos. Neste artigo, apresento minhas ideias
preliminares sobre os limites e as possibilidades de cada um desses
conceitos e o que se pode conseguir quando se reflete um por
meio do outro e, também, um com o outro. Quais são os pontos
fortes de cada um nos domínios da teoria, política, organização,
estruturas legais e método? Baseando-me no mapeamento dessas
duas genealogias bifurcadas, apresento algumas ideias sobre a
política de produção de conhecimento feminista – a qual tem sido
conduzida pelo mandato, por vezes restritivo e indomável, da
análise interseccionalista – para compreender quais tipos de futuro
são possíveis para a teorização feminista.



Resumo Inglês:

Intersectionality is thought by many feminists to be
the primary rubric for theorizing difference for the past two
decades, and is now a prevalent approach in some strands of
queer theory (increasingly known as “queer of colour critique”).
Intersectionality emerged from the struggles of second wave
feminism as a crucial black feminist intervention challenging the
hegemonic rubrics of race, class, and gender within predominantly
white feminist frames. But, in precisely in the act of performing
this intervention, it also produces an ironic reification of sexual
difference as a/the foundational one that needs to be disrupted
– that is to say, sexual and gender difference is understood as
the constant from which there are variants. Intersectionality
and assemblage are not analogous in terms of content, intent,
nor utility, but they have at times been produced as somehow
incompatible or even oppositional. In what follows, I offer some
preliminary thoughts on the limits and possibilities of each of
these and what might be gained by thinking them through and
with each other. What are the strengths of each in the realms of
theory, politics, organizing, legal structures, and method? Through
the mapping of these two bifurcated genealogies, I offer some
thoughts on the politics of feminist knowledge production – which
has been driven, sometimes single-mindedly, by the mandate of
intersectional analysis – to see what kinds of futures are possible
for feminist theorizing.