Contribuição ao conhecimento do escorpionismo e do escorpião Tityus obscurus Gervais, 1843 (Scorpiones, Buthidae) de duas regiões distintas no Estado do Pará na Amazônia brasileira

Revista Pan-Amazônica de Saúde (RPAS)

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ISSN: 2176-6223
Editor Chefe: Isabella M. A. Mateus
Início Publicação: 02/01/2010
Periodicidade: Trimestral
Área de Estudo: Ciências Biológicas, Área de Estudo: Ciências da Saúde, Área de Estudo: Multidisciplinar

Contribuição ao conhecimento do escorpionismo e do escorpião Tityus obscurus Gervais, 1843 (Scorpiones, Buthidae) de duas regiões distintas no Estado do Pará na Amazônia brasileira

Ano: 2014 | Volume: 5 | Número: 3
Autores: Pedro Pereira de Oliveira Pardal, Edna Aoba Yassui Ishikawa, José Luiz Fernandez Vieira
Autor Correspondente: Pedro Pereira de Oliveira Pardal | [email protected]

Palavras-chave: Tityus obscurus, Envenenamento, Peçonhas, Espectrometria de Massas, Morfometria, 16S rRNA, Diversidade, Amazônia

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Introdução: O Tityus obscurus Gervais, 1843 (Scorpiones, Buthidae), sinônimo sênior de T. paraensis Kraepelin, 1896 e T. cambridgei Pocock, 1897 tem ampla distribuição na Amazônia brasileira, sendo o de maior importância médica na região e apresenta manifestação clínica diversificada, dependendo da região. Objetivo: Contribuir para o conhecimento da diversidade do escorpionismo e do escorpião T. obscurus na Amazônia brasileira. Metodologia: Descrever, analisar e comparar os aspectos clínico-epidemiológicos do envenenamento, o molecular ao nível do ácido desoxirribonucleico (DNA) de escorpiões que ocasionaram acidentes, assim como, analisar a morfometria e a peçonha destes espécimes capturados nas regiões leste e oeste do Estado do Pará, Brasil, distantes uma da outra cerca de 850 km. Resultados: No estudo clínico epidemiológico, foram analisados 48 envenenamentos comprovados por estes espécimes, no período de janeiro de 2008 a julho de 2011, sendo 70,8% da região leste e 29,2% da oeste, com maior ocorrência na faixa etária acima de 15 anos de idade, com picadas nos membros superiores e durante o período diurno. O tempo para o atendimento médico foi abaixo de 3 h, com maior mediana e intervalo interquartil no oeste. No leste, predominou gravidade leve, enquanto na oeste, a moderada foi significante. A frequência dos sintomas no sítio da picada foi similar em ambas as regiões, enquanto as manifestações sistêmicas foram significantes na região oeste, predominando os sintomas gerais, neurológicos, oftalmológicos e gastrointestinais. Dentre os neurológicos, destacam-se as mioclonias, sensação de "choque elétrico", disartria, parestesia, ataxia, dismetria e fasciculação, encontrados somente naquela região. No estudo do DNA, foi utilizado o gene mitocondrial 16S rRNA, cuja análise comparativa das sequências das duas regiões mostrou 9,06% de polimorfismo, com divergência de 9,7% a 11%, com as árvores filogenéticas formando dois clados distintos nos métodos Neighbor-joining e na máxima parcimônia. Para a análise morfológica, foram aplicados critérios taxonômicos morfométricos em 18 espécies coletadas na região leste e 20 da oeste, com tamanho variando de 62,15 mm a 85,24 mm, cujas medidas dos 29 caracteres dos  machos e fêmeas das duas populações apresentaram maiores proporções das médias nos espécimes da região oeste, enquanto que a análise multivariada dos dois sexos mostrou, nos estudos de conglomerados e na análise discriminante, distinção entre os indivíduos das duas populações. Já a análise química da peçonha por meio da RP-HPLC e pela espectrometria de massa do tipo MALDI-TOF/TOF encontrou divergência qualitativa e quantitativa no perfil cromatográfico das duas populações e nenhuma similaridade na composição química entre os seus componentes, e uma maior concentração de neurotransmissores para canais de K+ e para Na+ na região oeste. Conclusão: Conclui-se que os escorpiões analisados das populações das regiões leste e oeste do Estado do Pará da Amazônia brasileira e que hoje conhecemos como T. obscurus Gervais, 1843, colocam em evidência uma diversidade regional deste escorpião que pode estar relacionada à especiação dos espécimes, decorrente da distância e de barreiras geográficas, chegando a formar duas linhagens distintas, o que justifica a diversidade na genética, na composição química da peçonha e nas manifestações clínicas nos envenenamentos encontrados neste estudo. Sugerimos uma revisão taxonômica destes "espécimes".