Este artigo tem como objetivo identificar como diferentes formas de manifestações de preconceito e práticas discriminatórias são apresentadas em livros didáticos de Geografia do Ensino Fundamental. Considero o livro didático como um dispositivo cultural, marcado por discursos didáticos e pedagógicos, negociados e hibridizados com discursos de ordem econômica e política. A análise de livros didáticos do sétimo e do oitavo ano de duas coleções distintas foi profícua por abranger diferentes conteúdos tradicionais da Geografia Escolar, as quais se articulam, em diferentes momentos, a questões emergentes como o racismo, a xenofobia e a discriminação de gênero. A discussão sobre esses textos curriculares foi realizada a partir de quatro eixos principais: (1) o destaque para abordagem econômica nos processos de discriminação de gênero no mercado de trabalho; (2) o viés econômico e cultural sobre as migrações internas e internacionais, desconsiderando o papel dos preconceitos regionais e da xenofobia; (3) o caráter historicista associado a abordagem da questão negra e indígena no Brasil; (4) a identificação entre o racismo e as políticas associadas ao segregacionismo socioespacial em países como a África do Sul e os Estados Unidos.
The objective of this article is to identify how different expressions of prejudice and discriminatory practices are presented in pre-tertiary-level geography textbooks. I consider textbooks as cultural devices, marked by didactic and pedagogical discourses, negotiated and hybridized with discourses of an economic and political nature. The analysis of textbooks for the seventh and eight years of the Brazilian basic education system (ages 11-14) of two different collections was fruitful in that it covered different traditional contents of School Geography, which are tied in, at different times, to emerging issues such as racism, xenophobia and gender discrimination. The discussion on these textbooks was divided into four primary thrusts: (1) the emphasis on an economic approach in the processes of gender discrimination in the labor market; (2) the economic and cultural bias around internal and international migrations, without considering the roles of regional prejudices and xenophobia; (3) the historicist character associated with the approach to Black and Indigenous issues in Brazil; (4) the identification between racism and the policies associated with social and spatial segregationism in countries such as South Africa and the United States.
