O grotesco é uma categoria estética, tanto intrigante, quanto difícil de explicar. Porém, são inegáveis sua relevância e influência em campos diversos da arte e da comunicação. O conceito foi trabalhado pelo crítico Bakhtin Mikail Mikhailovich (1984), que destacou suas funções na sociedade. Foi também explorado por autores como Muniz Sodré e Raquel Paiva (2002), que adicionalmente explicam a relação do grotesco com a televisão, e Peter Fingesten (1984, meio digital), pelo seu estudo da presença do grotesco no campo da arte. O uso do grotesco visa provocar a repulsa, o espanto ou o riso, e no cenário das produções audiovisuais, em geral, são muitos os seriados de animação que entram nessa categoria. Uma série bastante popular, conhecida pela representação de situações bizarras e imagens explícitas e chocantes, é South Park, que adota esse estilo para propor críticas à sociedade norte-americana por meio da sátira e da paródia. Este estudo investiga o uso do grotesco no décimo quarto episódio da nona temporada de South Park, a fim de identificar as formas como a categoria é utilizada. Através da proposta semiótica de Peirce, trabalhada por autores como Lúcia Santaella (1983;2008), James Jacób Lizka (1996) e Albert Atkin (2013, meio digital), as imagens mais impactantes do episódio são investigadas e, para isso, os signos são categorizados e estudados com o intuito de apontar a forma, o porquê e a relevância do uso do grotesco para o desenvolvimento da crítica proposta por ela. Por meio da análise peirceana realizada é possível entender que a mistura de sátira e paródia utilizada pelos criadores de South Park tem o propósito de divertir o espectador e expor atitudes e situações que exigem mudança, provocando o debate sobre os mais diversos temas, sem escrúpulos. O uso do grotesco no episódio analisado choca, revolta e, a quem não ofende profundamente, provoca o riso. Uma característica do grotesco é retratar a condição instintual, e explorar a vulnerabilidade dos seres humanos, independentemente de status. Com isso, assuntos que são reprimidos e ideias romantizadas tornam a ser expostos e entendidos. O uso dos instintos básicos, como são funções comuns a todos, tornam as ideias facilmente reconhecíveis e contribuem para uma melhor compreensão das ideias apresentadas e, assim, debates importantes são iniciados. O seriado faz uso disso, ridicularizando pessoas, crenças e fenômenos religiosos de uma forma que pode ser interpretada como profundamente desrespeitosa. Mas nisso há a ideia de que nada e ninguém é tão intocável que não possa ser criticado, analisado com outro olhar e debatido. Na verdade, a relevância do seriado está justamente nessa crítica proposta, mesmo que sua trajetória seja construída com base na controvérsia.