O presente artigo tem como objetivo uma abordagem crÃtica de um dos primeiros
ensaios de Hölderlin, escrito por volta de 1794-5, intitulado JuÃzo e Ser. Nesse perÃodo,
fundamentar o sistema kantiano através de um primeiro princÃpio tornou-se um dos principais
incentivos dos desenvolvimentos teóricos do idealismo alemão. A filosofia de Fichte e
Schelling, bem como a de Hölderlin, podem ser compreendidas por esse viés. Entretanto, o
último chega a soluções bastante diferentes dos demais, culminando com a negação da
possibilidade de um princÃpio unificador para qualquer sistema filosófico. Assim, contra os
incessantes esforços dos idealistas alemães para apreender a totalidade do real em termos
conceituais, através de um primeiro princÃpio, normalmente caracterizado como o Eu, o
Sujeito, o Eu absoluto, Hölderlin defende a incognoscibilidade de qualquer conceito
unificante do real. A realidade enquanto unidade primordial não pode ser apanhada pelo
discurso teórico, nem conhecida, nem aprisionada em conceitos, revelando-se apenas
através de uma intuição intelectual de cunho estético. Esse conceito eminentemente antikantiano constitui a peça chave para o entendimento do pensamento hölderliniano. Ele
justifica, em última instância, o privilégio da poesia e da linguagem poética em detrimento do
discurso conceitual e mostra, com isso, que há uma coerência interna entre os ensaios
teóricos de Hölderlin e suas obras literárias.