Este artigo é uma tentativa de elucidar a importância das relações da água com o processo de construção do espaço urbano em Recife (Pernambuco) durante a formação histórico-geográfica da cidade, no contexto da problemática global da relação natureza-sociedade. A questão foi abordada, tendo em vista, primeiramente, o perÃodo em que água e cidade eram valorizadas como duas dimensões associadas e importantes na vida das pessoas independentemente do seu nÃvel social, no âmbito de uma relação simbiótica. Em seguida, considerou-se o perÃodo em que ambas as dimensões começaram a separar-se uma da outra em função, sobretudo, de escolhas sociais ligadas a interesses econômicos que afastavam pessoas de renda mais alta das águas fluviais da cidade. Depois, destacou-se o processo de formação de uma geopolÃtica interna em torno dos terrenos situados em áreas que margeiam o rio Capibaribe, quando segmentos das classes hegemônicas locais passam a reocupá-los após a remoção de moradores pertencentes à s classes subalternas, no contexto de revalorização (capitalista) do espaço urbano. Por último, faz-se uma reflexão sobre possibilidades concretas de mudar o rumo desta lógica de produção do espaço urbano. Este trabalho constitui resultado de pesquisa realizada com base em uma revisão da literatura acadêmica e jornalÃstica sobre o tema em destaque, bem como sobre aspectos empÃricos e materiais iconográficos relativos à presença e ao uso da água na cidade.