O mandamento do amor ao próximo constitui o âmago das Obras do Amor de Kierkegaard. Nesta obra, o amor cristão é definido em contraposição ao amor natural, nomeadamente ao amor erótico e à amizade. Em virtude da sua natureza passional, o amor natural é uma forma de amor de si mesmo e não comporta exigência ética. No amor cristão, pelo contrário, o outro é amado como próximo, não em resultado de predileção, mas porque Deus ordena esse amor. Não obstante as dissemelhanças entre o amor natural e o amor cristão, não existe relação antitética entre estas duas formas de amor. Do ponto de vista cristão, o que é problemático no amor natural é a exclusividade egoísta, que o mandamento do amor ao próximo erradica ao estabelecer a equidade no amor. A proeminência dada ao mandamento do amor será considerada à luz da concomitante ênfase de Kierkegaard em esforço e dom, obras e graça, lei e amor. A interpretação Kierkegaardiana da doutrina do amor tem sido frequentemente criticada por descurar a dimensão social da ética cristã e espiritualizar o amor ao próximo. Embora seja inegável a existência de um certo desapreço por uma ética do amor orientada para transformações sociais, tal não implica menosprezo pela importância de promover o bem-estar social e material da pessoa humana. Kierkegaard visa antes mostrar a diferença qualitativa que existe entre a prática do amor cristão e a expressão política e social de generosidade organizada.
The command of loving one’s neighbor is at the core of Kiekegaard’s Works of Love. In this book, Christian love is defined in opposition to natural love, namely erotic love and friendship. Due to its passionate nature, natural love is aform of self-love and contains no ethical demand. In Christian love, on the contrary, the other is loved as one’s neighbor, not because of preference, but because God commands that love. Notwithstanding the dissimilarities between natural love and Christian love, these two forms of love are not antithetically related. From a Christian point of view, what is problematic in natural love is its egotistic exclusivity, which love for the neighbor eliminates by establishing equality in loving. The prominence given to the command of love will be considered in light of Kierkegaard’s simultaneous emphasis on effort and gift, works and grace, law and love. The Kierkegaardian interpretation of the doctrine of love has often been criticized for neglecting the social dimension of Christian ethics. While a certain disregard for an ethic of love directed towards social change is undeniably present, this does not imply disdain for the importance of promoting the social and material well-being of the human person. Kierkegaard’s concern is, rather, to show that a qualitative difference exists between the practice of Christian love and the political and social expression of organized generosity.