O artigo pretende desenvolver o argumento de que a noção de carne (chair, em francês)
– que constitui o conceito mor da ontologia selvagem de Maurice Merleau-Ponty – pode funcionar
como uma referência ontológica para a noção winnicottiana de mãe suficientemente boa. Para
tanto, numa primeira parte descreve-se a noção de carne; em seguida, a noção de mãe
suficientemente boa para, por fim, articular os dois nÃveis de teorização: o ontológico e o ôntico,
numa relação em que um nÃvel referenda o outro, discriminando, nesse mesmo processo, o espelho
materno winnicottiano do lacaniano (já que este último implica, necessariamente, uma alienação
do bebê no desejo da mãe).
This article intends to develop the argument that the notion of flesh (chair, in French)
– which constitutes the principal concept of Merleau-Ponty’s savage ontology – can work as an
ontological reference for Winnicott’s notion of good enough mother. For this purpose, it describes
the notion of flesh; then, the notion of good enough mother, to finally articulate both levels of
theorization: the ontological and the ontic ones, in a relation of mutual reference. At the same
time, it discriminates Winnicott’s conception of maternal mirror from Lacan’s one (since this one
implies, necessarily, an alienation of the baby in the mother’s desire).