A partir de elementos e passagens da obra de Graça Graúna, pensadora indígena Potiguara, este artigo discute a importante contribuição da literatura indígena contemporânea na renovação da teoria social a respeito do Brasil e seu povo, tensionando a sociologia brasileira hegemônica na nossa representação de sociedade nacional, com destaque para a superação da invisibilização étnica atravessada pelo desejo de emancipação social em perspectiva pluricultural. Com base no estudo da questão indígena e do indianismo na literatura brasileira, desde as crônicas dos viajantes e missionários do período colonial até a atualidade, bem como na leitura da própria autora sobre esses cânones, é mostrado como os povos originários foram sendo convertidos, excluídos, tornados cativos, associados a perdedores e subespécies. Ou seja, apagados da condição de sujeitos e de suas realidades socioculturais pelos esforços empreendidos pela intelligentsia brasileira no sentido de propagar ideias sobre o povo brasileiro e sua identidade enquanto nação eurocentrada. Por fim, são apontadas a interpretação de Graça Graúna sobre educação e direitos humanos, sua atuação contra a tese do “Marco Temporal” e a favor da sororidade entre as parentes indígenas. Espera-se, com essas reflexões e análises, jogar luz sobre projetos literários alinhados às cosmologias, auto-histórias e saberes indígenas na produção de um pensamento social de perspectiva decolonial e sensibilidade feminista, na construção de novo(s) projeto(s) coletivo(s) utópico(s) para o país.
Based on elements and passages from the work of Graça Graúna, an indigenous Potiguara scholar, this article discusses the important contribution of contemporary indigenous literature to the renewal of social theory about Brazil and its people, tensioning the hegemonic Brazilian sociology in our representation of national society, with emphasis on overcoming the ethnic invisibilization crossed by the desire for social emancipation in pluricultural perspective. Based on the study of the indigenous issue and Indianism in Brazilian literature, from the chronicles of travelers and missionaries in the colonial period to the present day, as well as the author’s own reading of these canons, it is shown how the original peoples were being converted, excluded, made captives, associated with losers and subspecies. That is, erased from the condition of subjects and their sociocultural realities by the efforts undertaken by the Brazilian intelligentsia in order to propagate ideas about the Brazilian people and its identity as a Eurocentered nation. Finally, Graça Graúna’s interpretation of education and human rights and her actions against the thesis of the “Temporal Framework” and in the sorority to indigenous relatives are pointed out. It is the expectation of these reflections and analyses to shed light on literary projects aligned with indigenous cosmologies, self-histories and knowledge in the production of a social thought with a decolonial perspective and feminist sensibility, in the construction of new collective and utopic project(s) for the country.
A partir de elementos y pasajes de la obra de Graça Graúna, pensadora indígena potiguara, este artículo discute la importante contribución de la literatura indígena contemporánea a la renovación de la teoría social sobre Brasil y su pueblo, desafiando la sociología brasileña hegemónica en nuestra representación de la sociedad nacional, con énfasis en la superación de la invisibilización étnica atravesada por el deseo de emancipación social en perspectiva pluricultural. A partir del estudio de la cuestión indígena y del indianismo en la literatura brasileña, desde las crónicas de viajeros y misioneros en el período colonial hasta la actualidad, así como de la propia lectura de la autora de estos cánones, se muestra cómo los pueblos originarios fueron convertidos, excluidos, hechos cautivos, asociados a perdedores y subespecies. Es decir, borrados de la condición de sujetos y de sus realidades socioculturales por los esfuerzos emprendidos por la intelligentsia brasileña para propagar ideas sobre el pueblo brasileño y su identidad como nación eurocentrada. Por último, se señala la interpretación de Graça Graúna sobre la educación y los derechos humanos y sus acciones contra la tesis del “Marco Temporal” y en la sororidad a los familiares indígenas. Se espera, con estas reflexiones y análisis, arrojar luz sobre los proyectos literarios alineados con las cosmologías, autohistorias y conocimientos indígenas en la producción de un pensamiento social con perspectiva decolonial y sensibilidad feminista, en la construcción de nuevo(s) proyecto(s) utópico(s) colectivo(s) para el país.