A riqueza do debate ocorrido entre os filósofos Luc Ferry e Marcel Gauchet, em janeiro
de 1999, deu origem a este artigo, em que os autores exploram os temas e as questões
discutidas naquela ocasião. O artigo apresenta as diferentes posições dos dois
pensadores franceses, cuja preocupação maior é pensar as condições de possibilidade
da religião e do religioso nos tempos atuais. Tempos em que, segundo os debatedores,
predomina a individualização da crença e nos quais a presença de uma religiosidade
sempre mais inquieta, difusa e incerta convive com o enfraquecimento institucional das
religiões. Longe de desaparecer num universo cada vez mais laicizado, o religioso,
como indagação sobre o sentido último da vida ou como aspiração ao absoluto, tende a
permanecer como um substrato insuperável. Como, então, pensar o religioso após a
religião? O texto apresenta as diferentes e divergentes posições de Ferry e Gauchet
acerca da pertinência do uso de termos clássicos como “sagradoâ€, “divinoâ€,
“transcendenteâ€, dentre outros, para tratar os constituintes dessa religiosidade
contemporânea e inquieta, própria de uma época na qual se torna impossÃvel a
edificação de um mundo de parte a parte estruturado pela religião e na qual o religioso
impregnaria todos os setores da vida pública e privada.
This paper analyses the questions and problems that was discussed during an important
debate between the French philosophers Marcel Gauchet and Luc Ferry, which take
place at Paris on January, 1999. The paper discusses the different conceptions of these
thinkers about the status of religion and the religious in nowadays. Days that witnesses
the individualization of religious belief and the presence of a restless, uncertain and
spread religiosity which however, lives side by side with an institutional weakening of
the historical religions. Far from disappearing in a more and more laicized world, the
religious as an inquiring about searching on ultimate sense for our lives seems to
remain as a permanent individual issue. Nevertheless, how is it possible to conceive the
religious after the deregulation of historical religions? Classical terms like “sacredâ€,
“divineâ€, “transcendent†and “absolute†are sufficient to qualify and analyze the
elements of this restless and uncertain religiosity, which seems to be constitutive of
societies that do not need religious legitimacy anymore.