Na passagem do século XIX para o XX, período circunscrito à chamada Bélle Époque, o Brasil passou por mudanças estruturais, que se refletiam na paisagem das grandes cidades, sobretudo Rio de Janeiro e São Paulo. No intuito de enfrentar a ameaça do “caos urbano” derivado do crescimento físico e demográfico das metrópoles, as elites dirigentes urbanas aprofundaram um abrangente processo de reformas, cujo sentido ultrapassava em muito a idéia da simples “remodelação” e “embelezamento” das cidades. Partindo de referenciais teóricos e conceituais da História Urbana e da premissa de que essas reformas estiveram atreladas a uma ampla lógica disciplinar, envolvendo, portanto, diversos dispositivos de poder, este artigo tem por objetivo analisar os aspectos que ensejaram tais reformas, suas características e seus impactos sobre o cotidiano das classes populares urbanas.
At the turn of the 19th to 20th century, period circumscribed by the so-called Bélle Époque, Brazil passed through structural changes, which were reflected on the landscape of big cities, especially Rio de Janeiro and São Paulo. In order to face the “urban chaos” threat derived from the physical and demographic growth of metropolises, exceeded the idea of a simple “remodeling” and “embellishment” of cities. Starting from theoretical and conceptual frameworks of Urban History and from the assumption that those reforms were linked to a wide disciplinary logic, thus involving several power devices, this article aims to analyze the aspects that led to such reforms, their characteristics and impacts on the daily life of urban popular classes.