O trabalho analisa a estratégia editorial do jornal O Globo no tratamento da questão das cotas raciais a partir do exame dos textos publicados pelo periódico sobre o tema entre 2001 e 2008. Focamos os textos de caráter opinativo para testar a hipótese de que há um controle editorial estrito na maneira como a questão das cotas raciais é apresentada no jornal na forma de controvérsia. Denominamos tal estratégia de "administração do espaço do debate". A análise temporal dos dados mostra que (1) O Globo mantém uma razão constante entre o número de textos opinativos e o de reportagens publicadas sobre o tema; e (2) entre os textos opinativos o jornal mantém uma razão constante entre textos contrários e favoráveis, com expressiva vantagem para os primeiros. A partir do cruzamento dos diferentes formatos e autorias dos textos publicados com sua valência descobrimos que, enquanto editoriais e cartas de leitores são dominantemente contrários, acadêmicos e colunistas do jornal se dividem entre prós e contras, e militantes, polÃticos e burocratas são apresentados como dominantemente favoráveis. Em suma, nossa análise permite mostrar que O Globo consegue ao mesmo tempo apresentar uma aparência de imparcialidade e controlar o espaço de debate de modo a passar uma posição dominantemente negativa das ações afirmativas para negros na universidade brasileira.
This article examines the editorial strategy employed by the newspaper O Globo in dealing with race-based affirmative action policies, from the texts published by the newspaper on the topic from 2001 to 2008. We give special attention to opinion pieces, in order to test the hypothesis that O Globo exerts strict editorial control in order to present affirmative action as a public controversy. We called the newspaper's strategy "management of the space for debate". Time-based data analysis reveals that (1) O Globo keeps a constant ratio between the number of opinion pieces and the number of news pieces published; and (2) the editors also keep a constant ratio between the number of opinion pieces against race-based affirmative action and the ones for it, with a clear advantage for the former. Our study also shows that while editorials and readers' letters are predominantly against the policy, texts authored by academics and columnists are fairly split between pro and con positions, and the ones written by militants, politicians and bureaucrats are chiefly favorable to affirmative action. In sum, our study shows that O Globo is able to put on a façade of impartiality while exerting a strict management of the space for debate in ways that allow for opinions against race-based affirmative action to have an upper hand.