O artigo considera o papel significativo que o sagrado desempenhou nas teorias de Hans Georg Gadamer e Theodor Adorno sobre a racionalidade e a experiência do pós-Iluminismo. Embora estes pensadores sejam vistos tipicamente como estando em desacordo entre si, sobre este tema, como se tornará evidente, sua obra permaneceu próxima: ambos apelaram em pontos cruciais para modelos teológicos, de modo um tanto controverso, a fim de combater as limitações das explicações estritamente metodológicas de sua racionalidade. O artigo traça em primeiro lugar sua mútua dependência nesta tarefa de concepções kantianas e pós-kantianas de estética, que implicavam as noções metafísicas clássicas de verdade e beleza e do bem em suas explanações. Tendo em vista este contexto, mostro como Gadamer e Adorno empregaram modelos teológicos para articular exposições da pobreza da experiência e teoria contemporâneas, proporcionando possibilidades de sua reinterpretação. Desse modo, ambos encararam o sagrado como como uma reserva crítica ainda não esgotada na história de nossa razão, que supera as restrições do Iluminismo, precisamente enquanto levantam a questão crítica da própria tradição, como Adorno a coloca: de que maneira “um pensamento obrigado a abandonar a tradição poderia preservá-la e transformá-la.”
This paper considers the significant role the sacred played in Hans-Georg Gadamer and Theodor Adorno’s theories of post Enlightenment rationality and experience. While these thinkers are typically thought to be at odds with one another, on this topic, as will become evident, their work remained proximate: both appealed at crucial points to theological models, somewhat controversially, to combat the limitations of strict methodological accounts of their rational. This paper first traces their mutual reliance in this endeavor upon Kantian and post- -Kantian accounts of aesthetics, which imported classical metaphysical notions of Truth, Beauty, and the Good into their accounts. Against this backdrop, I trace how Gadamer and Adorno employed theological models to articulate accounts of the poverty of contemporary experience and theory, affording possibilities for its reinterpretation. Thereby, both viewed the sacred as a still not exhausted critical reserve in our rational history, one that extends beyond the constraints of Enlightenment, precisely in posing the critical question of tradition itself: the question, as Adorno put it, of how “a thinking obliged to relinquish tradition might preserve and transform tradition.”