Este artigo apresenta uma cartografia da catação de materiais recicláveis de Criciúma, Santa Catarina, buscando discutir a espacialização do poder e os processos de subjetivação que constituem o espaço urbano. Partindo da noção de cartografia de Deleuze e Guattari, percorreu-se o território existencial da catação a partir de pistas contidas em discursos sobre catadores publicados em jornais locais e em três legislações implementadas no município a partir do ano 2000 que impactaram diretamente o trabalho destes sujeitos na cidade. Estas leis passaram a regular e limitar o tráfego e os serviços de transporte de veículos de tração animal e propulsão humana no perímetro urbano, além de estabelecer normas de conduta para estes trabalhadores. A pesquisa também contou com a vivência territorial dos pesquisadores junto aos catadores em seu cotidiano de trabalho no município. Com base em conceitos da obra de Michel Foucault e em outras referências complementares, problematiza-se o discurso higienista, engendrado na biopolítica que circunda a produção social deste espaço marcado pela desigualdade, além de apontar para a produção de heterotopias, espaços-outros que contrapõem a matriz social hegemônica.
This article presents a cartography of the collection of recyclable materials in Criciúma, State of Santa Catarina. It aims at discussing the spatialization of power and the subjectivation processes that constitute the urban space. Based on the notion of cartography by Deleuze and Guattari, the existential territory of collection was explored from clues contained in speeches on the waste pickers published in local newspapers and in three legislations implemented in the municipality from the year 2000 onwards that directly impacted the work of these individuals in the city. These laws began to regulate and limit traffic and transport services for animal-drawn and human-powered vehicles in the urban perimeter, in addition to establishing rules of conduct for these workers. The research also included the researchers' territorial experience with waste pickers in their daily work in the municipality. Based on concepts from the work of Michel Foucault and other complementary references, the article problematizes the hygienist discourse, engendered in the biopolitics that constitute the social production of this space characterised by inequality, and highlights the production of heterotopias, spaces-others that oppose the hegemonic social matrix.