A partir dos anos 2000, notamos na Argentina a publicação recorrente de livros escritos por sobreviventes dos centros clandestinos de detenção que funcionaram no país entre 1975 e 1983. A sua publicação ocorre em um momento em que os testemunhos dos sobreviventes foram além da meta punitiva, valorizando as suas vivências pessoais e as suas subjetividades. A literatura se converte assim em um lugar de agência para esses indivíduos que encontram, através da escrita, uma forma de intervenção ativa na produção de memórias no presente e de ressignificação da situação-limite do desaparecimento e dos seus efeitos sobre suas trajetórias. O objetivo deste artigo é apresentar alguns desses livros, analisando principalmente a importância apontada por seus autores no ato de escrever para a superação de traumas do passado e dos estigmas sociais e políticos do presente relativos à condição de ser um ex detenido-desaparecido da última ditadura civil-militar argentina.