Milan Kundera nos conta em "A cortina", um de seus livros de ensaio, que muitas vezes diz a si mesmo que talvez nosso verdadeiro castigo seja que o trágico nos abandonou. O perigo desse abandono reside no fato de que o espaço reservado à tensão passe a ser ocupado ou pelo maniqueÃsmo moral, ou pela tentativa de extermÃnio da tensão.
À tragédia é necessário um solo originário, um espaço da vulnerabilidade, de onde possa eclodir o conflito que define a tragédia. Nosso castigo seria então a erradicação desse espaço vulnerável – essa abertura para a eclosão dos afetos humanos – que mantém a diferença dentro de um espaço harmônico.
Se este espaço se encontra extinto ou reduzido em nosso tempo, podemos localizar a tentativa de sua manutenção nas obras dos artistas. Um desses é o cineasta norte-americano John Cassavetes.