Inspirados no paradigma indiciário (GINZBURG, 2007) e no método biográfico (BOURDIEU, 2001), analisamos os usos e abusos da história do pianista Tenório Jr. no interior da memória e da historiografia sobre o jazz brasileiro dos anos 1960-1970. Morto em 1976 em plena ditadura argentina, a figura do músico foi acionada como símbolo da condição do jazz nacional naquele período. Cotejamos, assim, a vida e os discursos sobre Tenório, destacando, por fim, os desmembramentos históricos do instrumental brasileiro. Chegamos ao entendimento de que a trajetória do músico foi apropriada para fundamentar leituras distintas sobre a relação entre canção e música instrumental, gerando posições estético-ideológicas conflitantes. Fundamentados em dados empíricos, problematizamos essas narrativas e percebemos que as nuances da memória trágica de Tenório dão indícios, mas não determinam os rumos que o jazz e a música instrumental brasileira tomaram nos anos 70. Assim, concluímos que apesar dos traumas sofridos, esses estilos não “morreram” nos porões da indústria fonográfica. Antes, resistiram e se reinventaram.
Inspired by the evidentiary paradigm (GINZBURG, 2007) and the biographical method (BOURDIEU, 2001), we analyze the uses and abuses of the history of pianist Tenório Jr. within the memory and the historiography of Brazilian jazz from the 1960s to 1970s. Murdered in 1976 du- ring the Argentine dictatorship, the figure of the musician was used as a symbol of the national jazz condition in that period. Thus, we compare the life and discourses about Tenório, finally highlighting the historical dismemberments of the Brazilian instrumental. We came to the understan- ding that the musician’s trajectory was appropriate to support different readings about the relationship between song and instrumental music, producing discrepant aesthetic-ideological positions. Based on empirical data, we problematize these narratives and realize that the nuances of Tenório’s tragic memory provide clues but do not determine the directions that jazz and Brazilian instrumental music took in the 70s. Thus, we conclude that despite the traumas suffered, these styles did not “die” in the basements of the recording industry. On the contrary, they resisted and reinvented themselves