Rui Manuel Amaral é um autor destacado na microficção portuguesa e os seus microcontos, de forte teor metaliterário, refletem frequentemente sobre questões de gênero. A leitura da sua obra (Caravana, 2008; Doutor Avalanche, 2010) permite pensar o modo como tem vindo a ser definido o microconto como gênero literário particular. Num autor que reiteradamente desvaloriza a etiquetagem genológica que lhe é consensualmente atribuída pela crítica – o microconto –, o que diz essa recusa do gênero? O presente trabalho pretende refletir sobre o modo como estes textos jogam com essa inscrição de gênero, questionando-a e tomando-a como nuclear desse universo literário. A crescente teorização ensaística sobre microcontos tem vindo a sublinhar a importância da leitura e dos leitores para este gênero literário. A close reading destes textos dará a ver estes microcontos enquanto experimentação das possibilidades e dos limites da delimitação genológica como condição de leitura, concluindo-se que esse jogo com as expectativas de gênero é determinante neste universo microficcional.