Sob forma ensaística e de notas filosófico-marginais ao texto
Judas-Asvero, de Euclides da Cunha, o artigo propõe uma leitura
ontodialética do mundo dos seringueiros da Amazônia do Purus,
no início do século XX, a partir dos conceitos de culpa, capitalismo,
religião, alienação, psicologia do escravo. A despeito de sua formação positivista e castrense, o autor de Os sertões, nesse pequeno-grande texto – Judas-Asvero – e refratário a classificações, capta com fina sensibilidade e densidade interpretativa, a barbárie anônima do mundo de culpa e resignação em que viviam os seringueiros na Amazônia no final do século XIX e inícios do século XX. Ao apedrejarem o miserável Judas, nesse ritual transposto do Medievo para os confins da Amazônia, os seringueiros de forma impotente, muda e reativa, vingam-se em verdade de si mesmos, porque o peso da alienação e da psicologia do escravo interdita a possibilidade de conferir forma objetiva ao conteúdo de sua revolta.