INTRODUÇÃO: A fibrose cística (FC) é a doença genética autossômica recessiva, mais comum em populações caucasianas, causada por variações na sequência do gene que codifica a proteína CFTR. Atualmente, cerca de 3000 variantes foram descritas (cftr2.org), embora cerca de 15% sejam patogênicas. As variantes são agrupadas em 7 classes de acordo com seus defeitos biológicos primários. O espectro e as frequências das mutações variam consideravelmente entre populações e regiões do mundo. O Brasil é conhecido por uma maior heterogeneidade, atribuída a miscigenação populacional, com prevalência estimada de cerca de 1 em cada de 10 mil nascidos vivos. A detecção e caracterização das variantes possibilita aprimorar o diagnóstico, promover o aconselhamento genético e mais recentemente o tratamento de precisão com moduladores do gene CFTR.
OBJETIVO: Descrever as variantes prevalentes em uma população de pacientes com diagnóstico de FC após a triagem neonatal, no período de 2010 a 2021, no centro multidisciplinar de tratamento da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
METODOLOGIA: Estudo retrospectivo, transversal descritivo. Aprovado no comitê de ética da instituição com nº de CAAE:55565622800005404. Foram analisados os dados de prontuários de 116 pacientes, com diagnóstico de FC, encaminhados da TNN no período. Após a confirmação diagnóstica (Cloro >60 mmolL), foi realizada a análise genética estendida pela amplificação de sonda dependente de ligação múltipla (MLPA, sequenciamento de DNA Sanger ou sequenciamento de próxima geração.
RESULTADOS: Durante o período do estudo foram encontradas 39 variantes do gene CFTR. Foi possível identificar 2 alelos em 86 %, dos casos e pelo menos 1 Alelo em 6 %. Em 9 casos (8 %) não foram identificadas variantes. Além disso, 53 genótipos diferentes foram encontrados em nossa amostra, sendo a maior prevalência observada para os genótipos F508del/F508del, F508del /G542X e F508del/S4X (respectivamente 25%, 9% e 7%). A F508del, variante causadora da doença mais descrita na população caucasiana, foi encontrada em homozigose e em heterozigose em 29 (25%) e 58 (50%) casos respectivamente. Outros alelos encontrados com maior frequência foram G542X (n= 18), S4X (n=9), A561E (n=6), R1162X e R334W (n= 3). Outras variantes foram encontradas com frequências abaixo de 1%. As variantes rastreadas foram classificadas da seguinte forma: 29 variantes patogênicas [classificadas em (I) n=12, (II) n=12, (III) n=1; (IV) n=2; (IV/V) n=1 e (VI) n=1] e 7 de significância incerta; e 3 novas. Foram encontradas 3 variantes aprovadas para uso de moduladores da CFTR no Brasil pela Agência de Vigilância Sanitária, em 87 destes pacientes.
CONCLUSÃO: Nossa amostra apresentou alta diversidade de variantes identificadas. Conhecer as variantes da nossa população permite ampliar o diagnóstico e o uso de terapias de precisão, promovendo maior qualidade e expectativa de vida aos pacientes.