Em um cenário marcado pelas chamadas guerras culturais, que entrelaçam as esferas da música pop e da política, este artigo busca contribuir para o debate a partir da análise de uma controvérsia relacionada à cantora Anitta: as acusações de uma possível “manipulação do algoritmo” do Spotify por parte da artista e de seus fãs, que teriam feito com que sua canção Envolver chegasse ao topo das paradas na plataforma. Para isso, coletamos de março de 2022 a fevereiro de 2023, 8.582 publicações no X/Twitter com menções à cantora e à suposta “manipulação”. Em seguida, realizamos a Análise de Conteúdo de uma amostra de 758 publicações a partir de quatro eixos: posicionamento político, valência, presença de desinformação e veículos de notícia. Os resultados da análise mostram que 74% das publicações eram negativas e que 51,3% dos perfis que a acusavam de manipulação do algoritmo do Spotify eram pró-Bolsonaro. Além disso, os perfis apresentaram em 43,1% das postagens links para sites com desinformação, demonstrando que a pauta foi instrumentalizada por perfis vinculados à extrema direita política visando gerar engajamento nas redes sociais.
In a scenario marked by ongoing culture wars, that increasingly intertwine the spheres of pop music and politics, this article aims to contribute to the debate through the analysis of a controversy related to the singer Anitta: the accusations of potential “manipulation of the algorithm” on Spotify by the artist and her fans, which would have made her song Envolver reach the top of the charts on the platform. We collected 8,582 posts on X/Twitter that mentioned the singer and the alleged “manipulation”, posted from March 2022 to February 2023. We then carried out a Content Analysis of a sample of 758 publications based on four axes: political positioning, valence, presence of disinformation, and news organizations. The analysis results show that 74% of the posts expressed a negative tone and that 51.3% of the profiles that accused Anitta and her fans of manipulating Spotify ́s algorithm were pro-Bolsonaro. In addition, in 43.1% of the posts, the profiles provided links to disinformation sites, demonstrating that the agenda was used by profiles linked to the political far-right in order to generate engagement on social media.