O Apartheid é mundialmente conhecido pela implementação de um sistema racial rígido, responsável pela separação entre os grupos da África do Sul e pela subordinação das populações não-brancas aos interesses da minoria. Na realidade criada pelos teóricos da segregação, cada raça assumiria uma posição estática dentro do sistema classificatório nacional, como se brancos, negros, mestiços (coloureds) e indianos correspondessem a universos autônomos, fechados à interferência e à influência dos demais.
O texto, assim, propõe a reflexão acerca dessa rigidez classificatória, a partir de uma comunidade que assumiu um papel ambíguo: a comunidade portuguesa. Como podemos pensar uma realidade racialmente rígida a partir de suas margens? Se os princípios segregacionistas pregavam a plena integração dos indivíduos aos grupos raciais politicamente definidos, como pensar uma comunidade que colocava em cheque a rigidez identitária e, conseqüentemente, o próprio pilar de sustentação do sistema? Pretendemos responder essas perguntas, sinalizando para a complexidade de uma das comunidades menos conhecidas da África do Sul.