A Constituinte no Chile, bem como os protestos que tomaram as ruas do país em 2019 e fortaleceram o grito por uma nova Carta Magna, animam um debate sobre a memória e as permanências associadas à ditadura chilena. É nesse contexto que se propõe uma leitura do filme Aquí no ha pasado nada (2016), dirigido por Alejandro Fernández Almendras, buscando-se demonstrar como a narrativa, embora se passe em meados da década de 2010, promove uma contundente reflexão acerca do autoritarismo chileno, cujas raízes não só permaneceram após a queda do ditador, mas, também, possuem origens que lhe são muito anteriores, remontando ao passado escravocrata do país e ao genocídio dos povos originários. Para tanto, recorre-se não só a uma análise da relação entre cinema e memória, bem como a uma possível relação da obra cinematográfica com a literatura.
The Constituent Assembly in Chile, as well as the protests that took over the country's streets in 2019 and strengthened the cry for a new Magna Carta, encourage a debate on the memory and permanencies associated with the Chilean dictatorship. It is in this context that a reading of the film Aquí no ha pasado nada (2016), directed by Alejandro Fernández Almendras, is proposed, seeking to demonstrate how the narrative, although taking place in the mid-2010s, promotes a forceful reflection on Chile’s authoritarianism, whose roots not only remained after the fall of the dictator, but also have origins that go far away in the past, dating back to the country's slave-holding origins and the genocide of the native peoples. To do so, we resort not only to an analysis of the relationship between cinema and memory, as well as to a possible link between cinematographic work and literature.