O presente artigo tem o intuito de analisar a metodologia metafilosófica através da qual Nietzsche caracteriza a tradicional questão délfica do autoconhecimento humano como fenômeno estético, no âmbito do seu ideal ético do espírito livre (Freigeisterei) e suas consequências durante a década de 1880. Tomam-se as duas edições de A Gaia Ciência (1882 e 1887) como fonte, verificando-se linguística e hermeneuticamente como os ideais epistemológicos de busca pela essência coincidem com os referenciais éticos fixados historicamente nas formas de vida das pessoas dentro de uma cultura e como Nietzsche demonstra que tal relação de identidade é um fenômeno estético que define a constituição do Belo como um caminho rumo à profundidade da essência. Subsequentemente, discorre-se sobre a inversão nietzschiana deste processo para uma estética da superficialidade, a partir do reconhecimento da aparência como único acesso possível a si mesmo e às coisas. Desta inversão deriva uma liberação do indivíduo para a produção do próprio caráter e do futuro da cultura à qual pertence.