No presente artigo buscamos mostrar a importância do pensamento de Gilbert Simondon, mais especificamente de sua forma de colocação do problema da percepção, para o campo da arte. A contribuição de Gilbert Simondon se faz relevante pois permite pensar uma abordagem do acontecimento artÃstico que escapa das armadilhas de um pensamento dicotômico segundo o qual haveria sempre uma escolha a realizar: ou falamos do aspecto formal e objetivo da obra, abrindo mão da dimensão da experiência e das relações da arte com outros processos vitais; ou nos restringimos aos significados e efeitos da obra, o que nos colocaria em sintonia com uma abordagem subjetivista que remete à s intenções ou motivações do artista e à s expectativas e preferências do espectador. A partir de uma discussão da leitura inventiva que Simondon realiza da Psicologia da Gestalt e articulando-a com o trabalho de autores como G. Deleuze e F. Guattari, tomando nesse sentido os conceitos de campo, metaestabilidade, forma, informação e modulação como fio condutor, mostraremos que é possÃvel pensar em um mesmo movimento a consistência impessoal da obra e sua potência de novas atualizações ou individuações. Isso é importante pois aponta para a mobilização de uma dimensão não recognitiva da percepção na experiência com a arte. A obra se coloca então como dispositivo de experimentação. Analisaremos, finalmente, como esse caráter de experimentação sensÃvel confere à experiência com a arte uma dimensão de produção de subjetividade e consequentemente, seu alcance polÃtico.
In the following article we intend to show the importance of Gilbert Simondon’s work, more specifically his way of placing the problem of perception, for art studies. Simondon’s contribution acquires relevance in the sense that it allows an approach of the artistic phenomenon that escapes from the traps of a dichotomous way of thinking which states that there would always be a choice to be made: either we talk about the formal and objective aspect of the work, giving up the dimension of the experience and the art’s relationships with other vital processes; or we restrain ourselves to the significances and effects of the work of art, wich would put us in synch with a subjective view, one that refers to the artist’s intentions or motivations, and to the viewer’s expectations and preferences. Starting with a discussion on the ingenious reading that Simondon makes of the Gestalt’s Psychology, and articulating it with the work of authors such as G. Deleuze and F. Guattari – and,
in this sense, taking concepts such as field, metastability, form, information and modulation as guideline – we expect to show that it is possible to conceive, in a single movement, the impersonal consistency of the work of art and its potential for new actualizations or individuations. This is important in the sense that it points to a mobilization of a non recognitive dimension of perception within the experience with art. The work of art operates then as an experimentational device. Finally, we’ll analyse how this character of sensible experimentation gives the experience with art its dimension of production of subjectivity and, therefore, its political range.