Músicas folclóricas comumente expressam sentimentos generalizados entre aqueles que as criam e interpretam: ora transmitem o espírito de celebrações e rituais, ora articulam sofrimento e resistência política. Asadoya Yunta, das ilhas Yaeyama (Okinawa), é um exemplo de insatisfação popular para com as empreitadas colonizadoras conduzidas pelo Japão, particularmente no século XIX; mas, quando é traduzida para o japonês, a temática anticolonialista desaparece, dando lugar a uma canção de amor, inofensiva em seu conteúdo. Assim, este trabalho procura demonstrar, através do estudo de caso de Asadoya Yunta, como a retirada de elementos contextuais de textos criativos serve um propósito estratégico em relações de poder assimétricas, esvaziando o texto de sentido e despolitizando seu significado.