O artigo trata de um tipo de segmentação não convencional de palavras escritas, a hipossegmentação (ausência de espaço em branco), em sequências que envolvem ao menos um clÃtico (medisse, damesma, eas pessoas). Os documentos examinados são cartas pessoais (CARNEIRO, 2005) e textos de jornal (NASI, 2012) redigidos em português por brasileiros no século XIX. O objetivo do trabalho é verificar se tendências apontadas por outros dados oitocentistas (BATTISTI, 2008; 2010) apresentam-se também nesses documentos. As tendências em questão são as de a hipossegmentação ocorrer, (a) nas sequências de um clÃtico e hospedeiro, redominantemente com hospedeiros paroxÃtonos dissilábicos ou monossÃlabos tônicos iniciados por consoante; (b) nas sequências de dois clÃticos e hospedeiro, predominantemente com os próprios clÃticos; (c) com clÃticos situados à esquerda do hospedeiro (adjunção do clÃtico para a direita). O trabalho toma como pressupostos as ideias de que (i) uma grafia não convencional como a hipossegmentação não resulta da transposição de caracterÃsticas da fala para a escrita, é dado complexo que indicia a organização prosódica da lÃngua (ABAURRE, 1999; TENANI, 2010); (ii) na prosodização
do clÃtico, seu papel gramatical junto ao hospedeiro é menos importante do que a relação dominante-dominado ou forte-fraco que entre eles se estabelece. A análise confirmou as tendências verificadas nos estudos anteriores. A adjunção à direita afeta tanto clÃticos pronominais quanto não pronominais e parece consolidada no século XIX. O emprego de maiúscula no inÃcio do hospedeiro em sequências hipossegmentadas revela que os escreventes percebem o limite de palavra (naEuropa, oBarão, deSanto Amaro), evidência de que os clÃticos adquirem estrutura prosódica integrando-se predominantemente à frase fonológica, não à palavra fonológica.