Em vez de aproveitar o momento de expansão da projeção internacional
do Brasil para se envolver em temas representativos para o conjunto dos atores
do sistema internacional, parece que a inserção brasileira caminha confusamente
em direção contrária. Desde o inÃcio da presente década, o Brasil tem mantido
evidente cordialidade com os governos de Cuba, da Venezuela, da BolÃvia e mais
recentemente, com o governo do Irã. Ao se envolver em temas portadores de elevado
grau de complicação das relações do paÃs com os demais atores tomadores
de decisão, a diplomacia brasileira parece sofrer de crise de identidade. Tomados
isoladamente, esses casos geram crÃticas, uma vez que o novo projeto de polÃtica
externa brasileira nunca foi esclarecido ou debatido de forma ampla. Após todo
o debate e a não formação da Ãrea de Livre Comércio das Américas – ALCA,
iniciativa lançada pelos EUA em 1994, o governo norte-americano, mesmo atuando
em diversas frentes de combate ao terror, procurou fortalecer sua presença
no subcontinente sul-americano. Os EUA começaram a costurar rede de acordos
bilaterais de livre comércio com paÃses da América Central e do Sul, viabilizaram
sua presença militar na região andino-amazônica por meio do Plano Colômbia,
procuraram cooperação para instalação de bases militares no Paraguai, o que os
deixaria próximos à maior represa do mundo e à gigantesca hidrelétrica de Itaipu,
reinstalaram a IV Frota, facilitando o monitoramento das reservas de hidrocarbonetos
no litoral brasileiro e se apressaram em apoiar a convocação de eleições em
Honduras após a destituição do presidente eleito. Toda essa aproximação não é
de se estranhar. O gás, o petróleo, a selva, a água e o mercado consumidor fazem
parte da cobiça de uma hiperpotência, qualquer que seja ela. O Brasil tenta reagir,
demonstrando que há contraponto geopolÃtico na região, decidindo colocar limites à s interferências norte-americanas em sua região, principalmente em momento
em que o sul do continente se expressa com renovado vigor e quase unanimidade
a favor de iniciativas de integração econômica de seus paÃses condenando a velha
polÃtica de agressão contra as nações.