Este artigo parte da discussão sobre autonomia do universo infantil versus autonomia infantil para analisar o caso das crianças Capuxu e a sua agência. O povo Capuxu é um grupo camponês cuja etnicidade se define a partir de um forte sentimento de pertença além de alguns sinais diacríticos. Dentre os aspectos enunciadores da identidade Capuxu, destacam-se três grandes sistemas: parentesco, nominação e apadrinhamento, sendo estes fortemente modificados através da ação das crianças. O sistema onomástico lhe designa nomes na infância que são substituídos pelos apelidos colocados pelas crianças entre si perdurando estes apelidos por toda a vida, e se tornando os desígnios formais de seus portadores. Embora o sistema de apadrinhamento lhe confira padrinhos escolhidos pelos seus pais, as crianças participam de rituais alternativos de apadrinhamento substituindo seus padrinhos formais por aqueles que eles mesmos escolheram e burlando o sistema de apadrinhamento Capuxu. Já o sistema endogâmico de parentesco, com união preferencial entre primos, delimita os cônjuges possíveis para as crianças, mas este sistema depende inteiramente das relações que estas crianças desenvolvem com seus cônjuges em potencial. Deste modo é que este artigo revela como as crianças Capuxu transformam sistemas construídos por adultos imprimindo neles a sua autonomia.
This article starts at a debate about children’s universe autonomy versuschildren’s autonomy to analyze the case of the Capuxu children and their agency. The Capuxu people are a peasant group whose ethnicity is defined by a strong sense of belonging as well as by some diacritical signals. Among the enunciating aspects of the Capuxu identity, three major systems stand out: kinship, naming and godparenting, which are strongly modified by children’s actions. The system of proper names designates names in childhood which are replaced by the nicknames attributed by children among themselves. These nicknames are used for lifetime and become the formal designations of their bearers. Although the godparenting system assigns to children godparents chosen by their parents, children participate in alternative godparenting rituals by replacing their formal godparents by those they have chosen, circumventing the Capuxu godfathering system. On the other hand, the endogamous system of kinship, with a preference for unions between cousins, delimits the possible spouses for children, but this system entirely depends on the relationships these children will develop with their potential spouses. This is the way this article uses to reveal how the Capuxu children change systems built by adults, imprinting their autonomy.