Avaliação da adesão ao tratamento medicamentoso em crianças e adolescentes com fibrose cística e fatores clínicos e nutricionais associados

Revista Brasília Médica

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ISSN: 2236-5117
Editor Chefe: Eduardo Freire Vasconcellos
Início Publicação: 01/09/1967
Periodicidade: Anual
Área de Estudo: Ciências da Saúde, Área de Estudo: Enfermagem, Área de Estudo: Medicina, Área de Estudo: Saúde coletiva

Avaliação da adesão ao tratamento medicamentoso em crianças e adolescentes com fibrose cística e fatores clínicos e nutricionais associados

Ano: 2023 | Volume: 60 | Número: Especial
Autores: Samantha Zamberlan Leyraud, Paulo José Cauduro Maróstica
Autor Correspondente: Samantha Zamberlan Leyraud | [email protected]

Palavras-chave: fibrose cística, adesão ao medicamento, pediatria,

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Resumo Português:

INTRODUÇÃO: A fibrose cística (FC) é uma doença genética autossômica recessiva causada por mutação no gene que codifica a proteína reguladora de condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR). Uma falha no CFTR induz o organismo a produzir secreções mais viscosas que obstruem o pulmão, pâncreas e o ducto biliar. A doença pulmonar crônica, a insuficiência pancreática e a desnutrição afetam muitos pacientes com FC, por isso a adesão ao tratamento é fundamental. A elevada adesão reduz a morbidade e mortalidade, além de reduzir os custos em saúde.

OBJETIVO: Avaliar a taxa de adesão à terapia medicamentosa e correlacionar a adesão ao tratamento medicamentoso com o estado clínico-nutricional de pacientes pediátricos.

METODOLOGIA: Estudo transversal incluindo 85 pacientes pediátricos entre 0 a 18 anos com diagnóstico de FC em acompanhamento no ambulatório de um hospital referência no sul do Brasil. Utilizou-se o questionário Brief Medication Questionnaire e a retirada de medicamentos na farmácia durante o período de um ano para avaliação da adesão, a avaliação nutricional conforme critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o escore de Shwachman-Kulczycki (SK) para avaliação do estado clínico do paciente. Este estudo foi desenvolvido em parceria com a Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul.

RESULTADOS: A taxa de adesão dos pacientes à terapia medicamentosa foi de 45% (27/59) e foi observado que metade dos pacientes (30/59) têm alguma crença associada ao uso dos medicamentos. Todos pacientes possuíam barreira de recordação, provavelmente devido ao esquema de múltiplas doses de medicamentos. O acesso aos medicamentos era inadequado para 85% (50/59) dos pacientes e envolvia a aquisição destes. Além disso, 18% (11/59) dos pacientes relataram ter parado algum medicamento nos últimos 6 meses sem o consentimento médico. Quanto ao estado clínico, os pacientes foram classificados como: 55,9% excelente, 28,8% bom, 11,8% médio, 3,4% moderado e ninguém apresentou estado severo. Observou-se que os pacientes com um estado clínico melhor conforme o SK, tendem a ter uma melhor adesão (p = 0.004, teste de Spearman's). Outro achado, associa pacientes desnutridos/risco nutricional (p = 0.045, teste de Kruskal-Wallis) com uma adesão mais baixa em relação aos pacientes eutróficos e obesos.

CONCLUSÃO: A adesão à farmacoterapia dos pacientes pediátricos com FC é baixa devido às barreiras, acesso e complexidade do tratamento. Além disso, um percentual significativo de pacientes deixou de utilizar algum medicamento recomendado pela equipe médica, sendo necessária a implementação de ferramentas para melhorar a adesão ao tratamento e o uso correto dos medicamentos nesta população. Apesar do estado clínico da maioria dos pacientes ser satisfatório nesta faixa etária, aqueles com desnutrição/risco nutricional ou com um SK desfavorável devem servir de alerta para uma possível intervenção da equipe multiprofissional na adesão à farmacoterapia.