O presente trabalho apresenta reflexões sobre os primeiros passos da minha pesquisa antropológica na região da Amazônia peruana. Ali, conduziram-se observações participantes e entrevistas com curandeiros, psicólogos/as e visitantes de dois diferentes centros terapêuticos, Takiwasi e Situlli, destinados a tratar problemas de saúde com medicina amazônica, a partir da tríade que compõe a terapêutica “tradicional” local: a) dietas, b) purgas e c) ceremonias com ayahuasca. Aqui será analisado o percurso conduzido para repensar os termos da hipótese inicial do meu projeto de doutorado, referente à efetividade do tratamento de dependentes químicos em comunidades terapêuticas que lançam mão da ayahuasca como recurso terapêutico na Amazônia peruana. Depois das primeiras visitas a campo em 2012, foi necessário fazer explodir alguns objetos aparentemente estáveis e coerentes: a “reabilitação do dependente químico”, a asserção do valor curativo da ayahuasca em si mesma e o poder de cura atribuído ao curandeiro. Proponho aqui partir da noção de que “dependente químico” é uma categoria biossocial – isto é, cuja identidade está fundada no biológico –, cuja aplicabilidade não é uniforme em todos os contextos. Com o intuito, mais geral, de recolocar o caráter situacional e local das práticas terapêuticas do vegetalismo peruano, apresentarei um percurso onde as categorias científicas são repensadas, trazendo novos e desafiadores sentidos às perguntas já feitas.
The present text offers some reflections about my own research at Peruvian Amazon. There were conducted participant observations and interviews with curanderos, psychologists and visitors of two therapeutic centers, Takiwasi and Situlli, intended to treat health disorders with Amazon plant medicine. The centers act under the principles of the local “traditional” therapeutic triad: a) dietas (diets), b) purgas (purges) c) ceremonias con ayahuasca (ayahuasca ceremonies). Here is going to be analyzed the course of ideas that led to rethink the terms of the initial hypothesis of my doctorate research, which referred to the effectiveness of the treatment of chemical dependents at therapeutic communities that use ayahuasca as a therapeutic resource in the Peruvian Amazon. After the first visits to the field in 2012, it was necessary to question some apparently stable and coherent objects: the very notion of “chemical dependence rehabilitation”, the assumption of the therapeutic value of ayahuasca itself, and the power given to the curandero in those contexts. Therefore, I propose here that “chemical dependent” is a bio-social category – as its identity tends to be founded on a biological ground – whose implementation should not be uniform in all contexts. The aim of this work is resituate the therapeutic practices of Peruvian vegetalismo, rethinking scientific categories and bringing new and challenging senses to questions already elaborated.