INTRODUÇÃO: A recente pandemia de gripe de 2009 e 2010 causada pelo vírus Influenza A (H1N1) pandêmico (pdm) mostrou um perfil de gravidade diferente da gripe sazonal, pois um percentual considerável de casos graves e fatais ocorreu em indivíduos adultos jovens, sem comorbidade. A virulência do vírus H1N1 pdm resulta de interações proteicas complexas e depende essencialmente de alguns genes virais. OBJETIVOS: O objetivo deste estudo foi caracterizar os genes codificadores da hemaglutinina subtipo 1 (H1) e polimerase básica 2 (PB2) do vírus H1N1 pdm mediante a obtenção de cepas provenientes de pacientes com gripe procedente da mesorregião metropolitana de Belém, Estado do Pará, Brasil. MATERIAIS E MÉTODOS: O tamanho amostral foi constituído de 87 amostras aleatórias de pessoas de ambos os sexos, com idade de 0 a 96 anos, com síndrome respiratória aguda grave, sem nenhuma comorbidade relatada, no período de maio de 2009 a agosto de 2010. As amostras foram isoladas em cultura de célula MDCK e analisadas por técnicas de biologia molecular que compreenderam três etapas principais: a) extração do RNA viral (RNAv), a partir do sobrenadante celular; b) amplificação do RNAv pela técnica de reação em cadeia mediada pela polimerase precedida de transcrição reversa (RT-PCR); c) sequenciamento completo dos genes codificadores da H1 e PB2. O presente estudo foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Evandro Chagas, no 0027/2008, aprovado em 24 de novembro de 2011. RESULTADOS: Das 87 cepas amplificadas pelo RT-PCR, em 82 tornou-se possível a obtenção e análise de sequências para o gene H1, enquanto que de 81 amostras virais foram obtidas sequências para o gene PB2. A análise comparativa das sequências adquiridas com a sequência da cepa vacinal (A/California/07/2009(H1N1)) revelou substituições aminoacídicas na H1 (P83S; D97N; S203T; D222G; Q293H e I321V) e na PB2 (K340N; K526R e M631L), no entanto sem associação à hospitalização. Na substituição da H1, a D97N isolada ou associada à S203T, foi detectada com mais frequência na primeira onda. Em relação ao nível da PB2, a substituição K526R também foi encontrada em cepas que circularam na primeira onda, enquanto que a M631L tornou-se mais evidente na segunda. A substituição D222G na H1 só foi encontrada em casos de óbitos. Por fim, observou-se uma tendência de alterações nos sítios antigênicos da H1. CONCLUSÃO: Sendo assim, a contínua vigilância genética e antigênica do H1N1 pdm em circulação, bem como o compartilhamento de informações, são de extrema importância para a melhor composição vacinal, evitando assim maior risco de epidemias severas no futuro.