As mobilizações recentes elencadas por denúncias concernentes ao trabalho escravo em unidades de produção designadas de piaçabais em Barcelos-AM desencadearam um processo de judicialização e uma série de atos de Estado. Os trabalhadores extrativistas dos piaçabais se autodefinem como piaçabeiros e estão subordinados aos comerciantes denominados de patrões. A relação entre estes dois agentes é baseada em um sistema de trocas desiguais que se caracteriza pelo adiantamento de mercadorias a crédito, conhecido como “aviamento”, que imobiliza o piaçabeiro pela dívida, pelas condições degradantes de trabalho, pelas jornadas exaustivas e pela restrição no direito de se deslocar. Para além de uma dívida econômica imposta a esses trabalhadores, existe também a moralidade da dívida, da qual a honra, a culpa e os estigmas atuam como instrumentos de dominação. Os mecanismos de resistências e de enfrentamento que os piaçabeiros acionam, tais como a burla no peso da produção, as denúncias, o cultivo das roças, a desconsideração dos estigmas e a participação em unidades associativas, são utilizados quando estes agentes percebem sua situação de imobilização da força de trabalho. Essa consciência leva ao enfrentamento de séculos dessa imobilização e tem sido vista com as experiências do chamado “piaçabeiro independente” que vem aos poucos eliminando a mediação do patrão nas atividades extrativistas de piaçaba.
The recent mobilizations listed by complaints concerning slave labor in production units called piaçabais in Barcelos-AM triggered a judicialization process and a series of State acts. The extractivist workers of the piaçabais define themselves as piaçabeiros and are subordinate to the traders called patrões. The relationship between these two agents is based on a system of unequal exchanges that is characterized by the advance of goods on credit, known as “aviamento”, which immobilizes the piassabeiro due to debt, degrading working conditions, exhausting work hours and restrictions on right to move. In addition to an economic debt imposed on these workers, there is also the morality of the debt, of which honor, guilt and stigmas act as instruments of domination. The mechanisms of resistance and coping that the piassabeiros trigger, such as the fraud in the weight of production, the denunciations, the cultivation of roças, the disregard of stigmas and the participation in associative units, are used when these agents perceive their situation immobilization of the workforce. This awareness leads to the confrontation of centuries of this immobilization and has been seen with the experiences of the so-called “independent piaçabeiro” that is gradually eliminating the boss’s mediation in the extraction activities of piaçaba.
