Neste estudo, queremos mostrar como Nietzsche, na terceira fase do seu processo de desenvolvimento intelectual, se apropria do contexto que o Renascimento propicia ao fortalecimento das suas teses acerca da transvaloração dos valores morais e, também, acerca dos homens elevados ou tipos superiores. Deste modo, ele vê Cesare Borgia, com toda a sua animalidade expressa em violência (Gewalt) e crueldade (Grausamkeit), como o mais fidedigno exemplo da realização dessas proezas, ou seja, como a força superior necessária para a transvaloração dos valores cristãos (die Umwerthung der christlichen Werthe), que, segundo ele, ainda persistiam, mesmo que de forma tímida, nas obras dos grandes mestres renascentistas (Da Vinci, Michelangelo e Rafael). Nietzsche, mais uma vez, segue os passos de Burckhardt que, em seu Ensaio sobre o Renascimento italiano, fala sobre o “homem violento” (“Gewaltmensch”) do Renascimento, o que despertou em Nietzsche a ideia de um humanismo para além do bem e do mal da moralidade cristã.