As regiões periféricas da cidade de São Paulo revelam uma profunda contradição em suas paisagens – por
um lado, remanescentes de sua base biofÃsica original e, por outro, uma crescente pressão pela ocupação do
território. O setor noroeste da periferia, por exemplo, possui áreas ambientalmente sensÃveis que, ao mesmo
tempo encontram-se sob forte pressão por ocupação por aqueles que o fazem por opção (mercado imobiliário) e aqueles que não possuem nenhuma (ocupação irregular e de alto risco). As populações pobres dessas regiões
tem se organizado, de forma expressiva, para a obtenção de direitos fundamentais por meio de associações
comunitárias, movimentos sociais e coletivos culturais, no recente processo de redemocratização do Brasil.
E precisamente nesses espaços urbanos que são, muitas vezes precários, que em processos participativos,
subjetividades tem aflorado, evidenciando uma sensibilização para as questões ambientais, com um desejo
implÃcito por paisagens mais humanizadas. Esses processos contam, frequentemente com crianças e educadores
como protagonistas. Por 13 anos o Laboratório Paisagem Arte e Cultura (LABPARC) da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP, tem trabalhado com os professores e estudantes das escolas públicas municipais, desenvolvendo
projetos, pesquisas e trabalhos de extensão universitária, na região. Este artigo busca discutir essa experiência, apontando os ganhos alcançados, mas, também os desafios surgidos na perspectiva da construção coletiva da cidade, onde as intervenções urbanas possam vir a ser harmonizadas com suas nascentes, córregos, encostas Ãngremes, florestas e fauna.
The peripheral regions of Sao Paulo reveal a profound contradiction in their landscapes – on the one hand,
remnants of their original biophysical basis and, on the other, increasing pressure for the territory’s occupation.
The northwest sector of the periphery, for example, presents environmentally sensitive areas which are at
the same time under great pressure for occupation by those who do so by choice (the property market)
and those who have none (irregular and high-risk occupation). The poor inhabitants of these regions have
increasingly organized themselves to achieve basic rights through community associations, social movements,
and cultural groups ever since the recent re-democratization process in Brazil. It is precisely in these urban
spaces, which are precarious in many ways, that significant subjectivities have emerged in participatory
processes, expressing an awareness of environmental issues with an implicit desire for more humanized
landscapes. These processes often include children and their teachers as protagonists. For thirteen years,
the Landscape, Art and Culture Laboratory (LABPARC) of the Faculty of Architecture and Urbanism (FAU)
at USP has been working with educators and children from municipal public schools, developing projects,
research, and university extension work in the region. This article aims to discuss this experience with the
objective of showing the gains achieved and the challenges that may arise within the perspective of a collective
construction of the city, where urban interventions can be harmonized with water sources, streams, steep
slopes, forests, and fauna.