De tempos em tempos, os Kalapalo e demais alto-xinguanos constroem estruturas especiais para seus chefes: grandes casas decoradas para chefes vivos, e sepulturas especiais para nobres falecidos – também concebidas como suas “casas”. Neste artigo analiso como estas estruturas guardam uma série de analogias com o modelo de corpo dos chefes, procurando mostrar como casas, sepulturas e corpos nobres objetivam, em diferentes escalas, uma dualidade entre humanidade/consanguinidade e animalidade/afinidade. A partir de um diálogo com as formulações de Lévi-Strauss sobre a Casa, argumento que a chefia xinguana é caracterizada pela síntese de princípios de unidade e antagonismo, cuja objetivação é parte necessária do movimento pelo qual os grupos xinguanos se diferenciam e se identificam no sistema regional, oferecendo as bases do processo do parentesco.