Percorrendo os registros da história oficial brasileira, observa-se a ausência de relatos que destaquem a atuação das mulheres negras em vários episódios de nossa história nacional. Caso singular é o de Francisca da Silva de Oliveira que, ao atingir o status de “objeto históricoâ€, se torna, entretanto, vÃtima de uma narrativa profundamente estereotipada. Os primeiros relatos históricos sobre Chica da Silva, determinados sempre por uma ótica masculina e branca, aparecem reeditados pelas produções literárias, cinematográfica e televisiva que, ao longo do tempo, vão surgindo sobre essa personagem negra, que marcou a história de Minas Gerais e do Brasil Colônia. O presente ensaio traz algumas considerações em torno da criação e da recriação da imagem de Chica da Silva tendo por base textos históricos e literários. Pode-se afirmar que há certa coerência entre a representação histórica e a literária. Em ambas as modalidades, na maioria das vezes, impera um imaginário em que a mulher negra seria sedutora somente pelos seus dotes fÃsicos sexuais. E para cotejar com as diversas versões criadas sobre Chica da Silva, trouxe para leitura o texto ficcional afro-brasileiro, Chica da Silva - a mulher que inventou o mar, de autoria de Lia Viera, buscando apreender distanciamentos e/ou aproximações da criação afro-brasileira com as narrativas anteriores a respeito de Francisca da Silva de Oliveira.