CINEMA COMO INSTRUMENTO DE MANUTENÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DA NARRATIVA NEOLIBERAL

Ano: 2020 | Volume: 1 | Número: 2

Autores: ANTONIO CARLOS GONÇALVES FILHO, DEBORAH MARIA ZANCHI

Palavras-chave: cinema, neoliberalismo, desconstrução, manutenção, narrativa

Resumo Português:

Esse trabalho busca observar o potencial transformador do cinema enquanto instrumento tanto de reforço e manutenção da narrativa neoliberal em detrimento dos direitos fundamentais sociais quanto de transformação, desconstrução e questionamento desse mesmo discurso. Os direitos fundamentais sociais tal como os direitos individuais pertencem a um regime jurídico substancialmente uniforme de todos os direitos fundamentais, uma vez que os direitos fundamentais sociais estão incluídos no catálogo constitucional de direitos fundamentais de modo expresso. Os direitos fundamentais sociais têm aplicabilidade imediata (artigo 5º, § 1º, da CF), são cláusulas pétreas (artigo 60, § 4º, inc. IV, da CF) e estão na cláusula material aberta (artigo 5º, § 2º, da CF). Além disso, a concepção estatal de Estado Democrático de Direito contida na constituição inclui os direitos fundamentais sociais e o princípio do Estado Social. Todavia, desponta no neoliberalismo um discurso de deslegitimação dos direitos sociais enquanto direitos fundamentais, como uma racionalidade governamental neoliberal de enfraquecimento das garantias constitucionais sociais. No afinco de entender esse processo o cinema é um instrumento de leitura que permite a identificação dos discursos. Assim, para alcançar esse objetivo se realizou uma análise de algumas obras cinematográficas, de diferentes gêneros, e com um público-alvo diferenciado, ou seja, tanto filmes com um declarado apelo comercial, quanto películas destinadas a uma audiência mais seleta (como é o caso dos chamados filmes cult). Procurou-se, com isso, observar de que maneira produções fílmicas retratam diferentes aspectos da sociedade neoliberal e sua relação degradante para com os direitos fundamentais sociais, tentando entender a relação entre uma mídia de tamanha influência e proliferação com a lógica do neoliberalismo. Percebeu-se que o cinema pode ser um poderoso instrumento para a manutenção da narrativa neoliberal, apresentando diversos valores fundamentais dessa forma de pensar a realidade (como o individualismo, a competitividade e a lealdade a empresa) de forma romanceada, reforçando os benefícios da visão liberal e neoliberal e apresentando a satisfação e conquista pessoal como o derradeiro objetivo a ser alcançado pelo sujeito. Ao mesmo tempo, no entanto, foi observado que diversas produções possuem um forte conteúdo de questionamento, questionando e desconstruindo diversos dos valores defendidos pelo discurso neoliberal. Com isso, ficou claro o potencial transformador da mídia do cinema, sendo capaz de oferecer uma visão questionadora dos valores neoliberais de forma extremamente íntima e efetiva. O uso da linguagem cinematográfica pode fortalecer os debates quanto as certezas propagadas pela narrativa do neoliberalismo, possuindo, portanto, um poderoso potencial transformador. Ao mesmo tempo, no entanto, esses mesmos instrumentos podem, e são, utilizados para a mantença do status quo, fortalecendo o discurso neoliberal e, por consequência, os aspectos mais negativos e destrutivos dessa narrativa, principalmente, para a tutela dos direitos fundamentais sociais.