Este artigo discute a apropriação de arquivos de filmes e vídeos footage para propostas representacionais de fundo histórico no cinema, através de alguns trabalhos do cineasta Andrzej Wajda (Trilogia da guerra 1954-1958, Homem de mármore 1976 e Katyn 2007). Embora a relação dos estudos históricos com as imagens tenha sido sempre questionada pelos pesquisadores da área, ao longo do século XX a utilização da fotografia, do cinema e do vídeo, em geral, foi cada vez mais incorporada e ampliada ao campo histórico. Wajda foi um cineasta que, por seu viés nacionalista, teve aproximação marcante com o gênero histórico, adotando, desde sua estreia, imagens de arquivos fílmicos (footage) mescladas ao ficcional. Contudo, a apropriação dos footage por Wajda não se limitou, como era comum aos anos 1930, a um caráter puramente documental ou ilustrativo, mas tornou-se, a exemplo de outros artistas, um recurso criativo e crítico. Assim, nas obras aqui examinadas – Trilogia da guerra (Geração, Canal e Cinzas e diamantes), Homem de mármore e, mais enfaticamente, Katyn –, é possível atestar como o recurso ao footage não apenas fornece outros significados à história oficial, mas engendra uma meta-história, tanto da história oficial como das formas canônicas de se buscar a memória e a história. Tomando o conceito de “efeito de arquivo”, elaborado por Jamie Baron (2012, 2014), esta análise busca, ainda, destacar o papel determinante da recepção no estabelecimento dos sentidos de “documento” e dos elementos considerados “ficcionais” no uso dos arquivos de imagens.