O clássico dito de Montaigne – “a palavra é metade de quem fala, metade de quem ouve” – é por excelência aplicável à filosofia. Não penso aqui do ponto de vista histórico. Falo, antes, da perspectiva de alguém que a cultiva cotidianamente e faz da escuta o adubo diário de suas reflexões dispersas. Claro que a história do pensamento exprime a máxima com nitidez. Mas, talvez, porque seja um registro parcial desse modo de sentir, pelo qual tantos temos sido afetados desde sempre – e do qual excedemos em testemunhos desde a invenção dos registros duráveis.