O presente trabalho propõe-se a discutir algumas incidências referentes à tradição Zen do Budismo na obra do autor mineiro João Guimarães Rosa, mais especificamente no caso do romance Grande Sertão: Veredas (1994) e do conto "A terceira margem do rio", presente no livro Primeiras Estórias (1988). Tal preceito religioso e filosófico oriental reconhece uma realidade divina substancial para com a vida. O caminho do meio ou a terceira margem, na tradição oriental, diz respeito ao que está além do meramente dual, do ambivalente, do ambÃguo e do maniqueÃsta. No princÃpio do "homem muito provisório" sertanejo, Rosa intenta na separação entre bem/mal, certo/errado, vida/morte e sim/não para transcender a sua obra do regional e do fÃsico ao "terreno da eternidade", do metafÃsico e do universal, onde, no estado Zen de Bardo (entre dois), os seus personagens atingem a iluminação, momento epifânico que ronda os personagens de Riobaldo e do Filho nas obras supracitadas. Assim, os dois textos ora analisados se inserem nos estudos mÃstico-esotéricos encontrados na fortuna crÃtica do autor, como bem nos mostrou Benedito Nunes n'O Dorso do Tigre (1969); Suzi Frankl Sperber, em Caos e cosmos: leituras de Guimarães Rosa (1976); Consuelo Albergaria no Bruxo da Linguagem no Grande Sertão (1977); Francis Utéza, em JGR: MetafÃsica do Grande Sertão (1994); e Heloisa Vilhena de Araújo, n'O Roteiro de Deus: dois estudos sobre a obra de Guimarães Rosa (1996). Desta feita, nos basearemos nos tratados da tradição do Zen Budismo pesquisados por Maria de Lourdes dos Santos em SÃntese do Budismo (2003) e por Celina Muniz de Souza em O TaoÃsmo (1986). Ademais, o compêndio intitulado A Filosofia Perene (2010), de autoria de Aldous Huxley, será de extrema relevância para a configuração do lado mÃstico do incondicional mediante a vivência agonizante das personagens de Guimarães Rosa.