Neste estudo de casos múltiplos, foram investigadas as diferenças no discurso de uma dupla de jovens adultos, um do sexo feminino, outro do masculino, ambos adotados tardiamente, na fase da pré-adolescência. A partir da transcrição das entrevistas feitas na pesquisa de Vieira (2012), analisaram-se suas narrativas de vida, tendo em vista uma possível relação entre uma narrativa coerente e a capacidade do narrador para normalizar os fatos narrados, segundo Sacks (1984). A jovem havia produzido uma narrativa coerente, segundo Vieira (2012), que expressa unidade entre os acontecimentos que ela conta em sua história de vida. Ele, no entanto, não havia atingido coerência suficiente em sua narrativa. A presente investigação encontrou, na narrativa do jovem pesquisado, sinais de impossibilidade para normalizar as experiências, uma vez que associava afetos demasiadamente intensos a certos eventos narrados. Já na narrativa da jovem observou-se conhecimento consciente a respeito da falta de normalidade de certos eventos narrados, sobre os quais ela já elaborou seu posicionamento e fala a respeito. Conclui-se que, enquanto uma narrativa coerente demonstra que o narrador procura apresentar-se ao mundo como uma pessoa normal, sabendo seguir as restri-ções em relação ao que é aceitável ou não como o objeto de uma história, isso é muito difícil para quem não consegue construir uma narrativa coerente.
Objective: the aim of this investigation was to look for differences in the discourse of two young adults, one female and one male, both adopted in late adolescence, trying to find a relation between a coherent narrative and the narrator´s capacity to normalize facts he/she narrates, according do Sacks (1984). Method: multiple case study, based on the transcriptions of the interviews made in Vieira (2012), the correspondent life narratives were analyzed and compared as for the normalization of narrated facts. Results: she had produced a coherent narrative, according do Vieira (2012), expressing unity in her life happenings. On the other hand, he had not been able to reach coherence enough. The present research found signals of inability to normalize experience in the male young adult´s narrative, according to Sacks (1984), once he attributed too intense emotions to certain events. The lady showed to be consciously aware about the lack of normality of some narrated events, about which she could talk normally. Closing remarks: the conclusion is that a coherent narrative shows that the narrator tries to present herself/himself to the world as a normal person, because she/he knows and follows the restrictions to what is acceptable or not as the object of a story, while the person who cannot build a coherent narrative also faces great difficulties in normalizing her/his experiences.