O estudo das estruturas sintáticas independentemente dos contextos interacionais em que ocorrem possui uma longa tradição no âmbito dos estudos lingüÃsticos. Dentro dessa perspectiva, a gramática é concebida como uma estrutura bem-formada,cuja coerência deve ser entendida em termos de integridade auto-sustentada. Apenas perifericamente,seriam as estruturas gramaticais afetadas por outras“capacidades mentaisâ€, por aspectos pragmáticos relacionados aos contextos de uso da lÃngua ou por aspectos culturais inevitavelmente entrelaçados coma semântica e o léxico.Em contraposição a essa tradição, pode-se destacar todo um conjunto de investigações que apontam para uma outra concepção de gramática, com raÃzes na antropologia lingüÃstica (Boas 1927, Sapir1933, Gumperz e Dell Hymes 1967, Ochs 1992,Schieffelin 1990), na gramática funcional (Comrie,1989, Givón 1984, 1990, Dixon 1979, Foley e VanValin 1984, Hopper e Thompson 1980) e na análise da conversação (Goffman 1964, 1967, 1974,Schegloff 1972, Sacks, Schegloff e Jefferson 1974).Nos últimos vinte anos, destaca-se ainda o surgimento da lingüÃstica cognitiva, ressaltando-se os trabalhos de Fillmore 1988, Lakoff e Johnson1980, Lakoff 1987, Langacker 1987, 1991,Fauconnier 1994, 1997, Swetser 1990, Fauconnier& Sweetser 1996.Guardadas as especificidades das abordagens teóricas supra-mencionadas, todas têm em comum o fato de conceberem a gramática como parte de um conjunto mais amplo de recursos que subjaz à organização da vida social. Mais particularmente, concebe-se a gramática como o modo pelo qual a lÃngua figura na interação diária. A integridade e a eficácia das construções gramaticais estão ligadas ao lugar que elas ocupam em esquemas gerais de organização da cognição humana e da interação social.