Traduções, adaptações, criações. Assim podemos classificar as obras que compõem a literatura surda, conceito muito recente, já que, embora a existência dos surdos, de suas práticas sociais e formas de comunicação seja tão antiga quanto a humanidade, apenas na década de 1980 os estudos surdos começaram a acontecer no Brasil e apenas em 2002 a língua brasileira de sinais (Libras) foi oficialmente reconhecida como língua pelas leis brasileiras. Por isso ainda são escassos os estudos acadêmicocientíficos nacionais sobre a Libras, as culturas surdas brasileiras, seus costumes e produções, entre eles a prática de contar histórias. Essa prática faz parte da tradição surda, como ocorre em qualquer comunidade, mas não contava com os registros e a sistematização que hoje vêm se desenvolvendo no meio científico. Considerando as peculiaridades da literatura surda — conjunto de narrativas em línguas de sinais que incorporam elementos da cultura surda, como define Karnopp (2008; 2010), e, mais do que isso, conjunto de obras literárias bilíngues, sejam elas criadas, traduzidas e/ou adaptadas, em versão impressa ou em vídeo — argumentamos a favor da presença de seus estudos nos campos dos estudos da tradução e da adaptação, convencidas que estamos do potencial de enriquecimento mútuo dessas práticas e suas pesquisas.
Translations, adaptations, creations. This is how we can classify the works that make up deaf literature, a very recent concept, since, although the existence of the deaf, their social practices and forms of communication is as old as humanity, it was only in the 1980s that the deaf studies began to happen in Brazil and only in 2002 that the Brazilian sign language (Libras) was officially recognized as a language by Brazilian law. That is why national academic-scientific studies on Libras, Brazilian deaf cultures, customs and their productions, including the practice of storytelling, are scarce. This practice is part of the deaf tradition, as in any community, but they did not have the records and systematization that is being developed today in the scientific community. Considering the peculiarities of deaf literature — set of narratives in sign languages that incorporate elements of deaf culture, as defined by Karnopp (2008; 2010), and, more than that, a set of bilingual literary works, whether they are created, translated and/or adapted, in print or video — we argue in favor of the presence of these studies in the fields of translation and adaptation studies, convinced that these practices and their research have a potential for mutual enrichment.