Este artigo analisa a motivação brasileira para agir como mediador de tensões em um dos momentos mais delicados da história do Suriname, em 1982: a crise que sucedeu o assassinato de diversos opositores de seu líder, Desiré Bouterse, que propugnava uma guinada na política externa de seu país, propondo uma aproximação de Cuba. A gestão brasileira ficou conhecida como “Missão Venturini”, enviada em 1983, cujo maior objetivo foi evitar essa guinada do governo surinamês, bem como potenciais ingerências dos Estados Unidos, que investiam em intensa campanha anticomunista sob o governo Ronald Reagan, na América do Sul. Nossa análise, pautada em documentos dos Arquivos Saraiva Guerreiro e Azeredo da Silveira, disponibilizados pelo CPDOC/FGV, usa a teoria prospectiva para oferecer uma resposta a tal indagação. Indicamos que a executiva de política externa, agindo de modo a evitar perdas decorrentes de possíveis gestões estadunidenses na região, optou pelo oferecimento de cooperação ao Suriname visando “moderar” o discurso e as ações do governo Bouterse.
This paper analyse the Brazilian motivation to act as a mediator in one of the most difficult moments in Suriname’s history, in 1982: the crisis that succeeded the killing of opponents of Desiré Bouterse’s government, who advocated for a new path for the Surinamese foreign policy, including a convergence of positions with Cuba. The Brazilian intervention, known as “Missão Venturini”, sent in 1983 to Panamaribo, intended to avoid such Surinamese movement towards Cuba, and the potential American intervention that would follow such movement, as the Ronald Reagan government was intensely anti-communist. Our paper is based in declassified documents, disponible at CPDOC/FGV, and use the Prospect Theory in order to achieve our goal. We point to the Brazilian Foreign Policy Executive’s risk-averse orientation. When facing the prospect of a “socialist” Suriname and the losses that an American intervention in South America would cause to Brazil, a cooperation offer seeking to contain Bouterse’s actions and to avoid a Surinamese policy shift to the left seemed a less risky alternative.