A escolha do tema propõe uma hermenêutica sobre noções de simetria na cosmologia de Anaximandro 610 a.C., e investiga se essa cosmologia tem correspondência com a de Platão 427 a. C., notadamente no Fédon 108e. A narrativa de Platão, no Fédon 108e apresenta indícios de uma ampla tradição cultural que faz remissão aos filósofos pré-socráticos. Trata-se, portanto, de investigar a noção de simetria esférica do universo inaugurada por Anaximandro, conforme assinala Jean-Luc Périllié (2005) e William Guthrie (1984), e se a cosmologia dos antigos sábios citada por Platão será assumida em seu sistema. Nesse sentido, emergem as perguntas: a cosmologia pré-socrática foi citada por Platão literalmente, sem nenhuma roupagem mítica? Por que Platão (Filebo, 64e) afirma que a simetria é a mais bela das relações? Essas perguntas, no entanto, dão prerrogativas para investigar se essa simetria é solidária com a noção de harmonia argumentada por Platão (Fédon 95a), e com a harmonia das cordas da lira (Fédon, 85e), aquela que remonta à tradição pitagórica (JAEGER, 2003). Embora Platão tenha raramente citado os pré-socráticos (KIRK; RAVEN; SCHOFIELD, 1994), e em nenhum momento citado diretamente Anaximandro (GUTHRIE, 1984), não obstante, suas cosmologias parecem ter proximidade. Finalmente, de forma modesta, para passar em revista a cosmologia de Anaximandro e a de Platão, será preciso conforme adverte Dirk Couprie (2003), abandonar os preconceitos da cosmologia moderna.