O filme de Jean Rouch e Edgar Morin, Chronique d’un Été, realizado no início dos anos de 1960, coloca uma série de questões no campo da antropologia, da sociologia e do cinema. Em primeiro lugar constitui um trabalho de referência da passagem da etnografia dos povos longínquos e culturas exóticas para a etnografia do quotidiano juvenil urbano. Dá continuidade ao Cinema Vérité de Dziga Vertov quer no referente à atualização da metodologia decorrente da transformação tecnológica – som direto e síncrono, quer em relação à temática – a cidade e o cinema são os temas centrais. Chronique d’un Été, um filme de palavras, constitui-se como inquérito sociológico ou sócio antropológico, levantando toda uma séria de problemas epistemológicos decorrentes da transposição para a plano da realização cinematográfica de questões fundamentais que continuam em debate na sociologia contemporânea como o valor metodológico das entrevistas, das entrevistas clínicas não diretivas ou semi-diretivas como meio de acesso ao conhecimento da realidade humana. A reflexividade constitui um terceiro ponto que marca este filme dando continuidade ao cinema verdade, como é denominado por Edgar Morin. Propomo-nos analisar, no filme referido e no material filmado que não fez parte da versão final, os procedimentos de realização e montagem e a influência da obra de Jean Rouch no cinema e na antropologia visual e prestar atenção às principais marcas da passagem de Homem da Câmara de Filmar ao filme de Rouch e Morin. Este trabalho resulta de anteriores publicações e da pesquisa realizada no Grupo de Investigação Media e Mediações Culturais do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais da Universidade Aberta de Portugal.