A cultura (imaterial) indÃgena vive apenas em suas materializações, visÃveis ou invisÃveis. Dar a ver, revelar — assim como ocultar — essa ‘cultura’ é parte da vida (“socialâ€) indÃgena — é toda ela, se esta
vida deve ser vivida em termos de conhecimentos, práticas, discursos, interpretações, expectativas e significados especÃficos cuja relativa coerência os antropólogos constroem como cultura. Pois é por meio dos efeitos produzidos por essas revelações e esses ocultamentos que são tecidas as relações (“sociaisâ€) de que se faz a vida dos humanos — relações com outros humanos, animais, espÃritos, brancos. Tecidas de uma maneira especÃfica, porque do que se trata é de relações especÃficas (entre pessoas, humanas ou não, determinadas), cuja qualidade se reconhece por certas formas especÃficas (a beleza do padrão; a quantidade de enfeites; a eficácia do remédio). Por meio de alguns exemplos pinçados na literatura recente, relativos a saberes xamânicos, ornamentação e pintura corporal, este
artigo procura tematizar os possÃveis efeitos da constituição de contextos revelatórios que determinam esses conhecimentos como “culturaâ€, no bojo do debate recente sobre patrimônio imaterial e conhecimentos tradicionais.