Este ensaio não é sobre torneios de Futebol, e peço desculpas aos que carregam alguma mágoa desse assunto pela maneira como estou começando. Ocorre que desde o inÃcio dos jogos, no último ano, minha amiga Margret dizia que a Alemanha ganharia a Copa do Mundo. Seu palpite estava certo, mas ela não acompanhava o futebol de seu paÃs nem dos times rivais. Na verdade, ela sequer tinha o hábito de assistir a jogos futebol e mal conhecia as regras. Quando ela me contou sua crença, nós evidentemente sabÃamos que não se tratava de conhecimento. Faltava algo que justificasse, de modo que a verdade da crença dela, após o resultado final dos jogos, nos pareceu fruto do acaso. Margret não entendia de futebol, mas mesmo que a mesma crença pertencesse a um grande expert, nós não a tomarÃamos por justificada, já que há vários elementos imprevisÃveis em um torneio de futebol.
Minha amiga e eu praticamente não temos mais pensado no resultado da Copa. A questão da justificação do conhecimento, por outro lado, por vezes volta a nos intrigar. Como nos mostra a crença de Margret, não basta termos uma crença verdadeira, é preciso que ela seja justificada, mas o que justificaria as nossas crenças? A cada instante, temos que tomar decisões baseadas em nossas experiências. Em geral, nós tendemos a confiar nessas decisões, mas se paramos para pensar sobre isso, ficamos com a dúvida: será que as crenças que fundamentam nossas tomadas de decisões estão justificadas? Se essa pergunta nos acompanhasse a todo instante, certamente não conseguirÃamos levantar os pés do chão para dar um passo.