No cenário de ensino e pesquisa em Língua Estrangeira, o termo ‘inteligibilidade da fala’ tende a ser frequentemente trazido à discussão. Sendo tal construto geralmente caracterizado como o grau de entendimento possibilitado pela fala em L2, diversas são as metodologias experimentais que buscam quantificá-lo. Consideramos, entretanto, que tal construto ainda carece de uma concepção de língua que o sustente epistemologicamente. Neste trabalho, propomos uma reflexão acerca dos desafios, bem como das implicações, de pensarmos a inteligibilidade de fala em L2 a partir de uma visão ecológica. Amparados por estudos sobre uma concepção ecológica da percepção dos sons (GIBSON, 1966, 1979; FOWLER, 1986; BEST, 1995; BEST; TYLER, 2007; PEROZZO, 2017a, 2017b), evidenciamos que a caracterização que buscamos implica mais do que a percepção do código oral per se (ALVES; SILVA, 2016), e que a inteligibilidade apresenta caráter multimodal. Julgamos fundamental, além disso, uma caracterização mais clara sobre o ambiente em que acontece a interação. A inteligibilidade, assim, assume caráter emergente, sendo caracterizada como um processo adaptativo e complexo (LARSEN-FREEMAN, 1997, 2017; LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008; BECKNER et al ., 2009; DE BOT; LOWIE; VERSPOOR, 2007, 2011). Tais características impõem novos desafios tanto conceptuais quanto metodológicos, considerando-se a perspectiva ecológica aqui assumida.